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Artigo - Serviço público também adoece

Claudiney Rocha é procurador do estado e presidente da APEG


A saúde mental tem sido tema cada vez mais presente nos ambientes de trabalho, incluindo o serviço público. Mesmo que esta seja uma carreira tão almejada pelos brasileiros, diariamente, nos deparamos com relatos de colegas que enfrentam desafios ligados à saúde mental, como estresse, ansiedade e até adoecimento físico, sinais claros de que algo precisa ser feito.

Já vi grandes profissionais de suas áreas sucumbirem, tendo que lidar, muitas vezes, com a invisibilidade e o preconceito em relação ao que os aflige. E, diferente do que o senso comum diz, a estabilidade de um concurso público, de uma carreira, não oferece imunidade à saúde do servidor.

Seria ideal que o Estado fosse exemplo nas condições de trabalho e na prevenção ao adoecimento mental. Mas a realidade é que o orçamento limitado, o atendimento de toda uma população e ainda a volatilidade dos interesses políticos que perpassam o serviço público a cada gestão podem tornar muitas vezes insalubre este ambiente de trabalho.

Foi assim que vi uma colega de 40 e poucos anos adoecer a ponto de não conseguir ouvir o toque do telefone sem sentir pontadas no coração ou outro ainda que se viu paralisado diante dos processos que se acumularam em sua mesa de trabalho. Pessoas no auge de suas carreiras, mas que precisaram de pausa e de apoio para sobreviverem.

O equilíbrio entre vida profissional e pessoal é essencial para um desempenho saudável e produtivo. Relatórios da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que os transtornos mentais são a principal causa de incapacidade no mundo. Por ano, mais de 289 mil servidores públicos foram afastados por questões de saúde mental no Brasil (levantamento de 2020).

Esse esgotamento não acontece de uma hora para outra. Corpo e mente dão sinais ao longo do tempo, até que um colapso se torna inevitável. Antes que o organismo “pife”, é fundamental buscar ajuda e adotar práticas que garantam o bem-estar. Isso, cada um de nós pode fazer.

Mas é preciso também que os líderes, seja no serviço público, seja na iniciativa privada, estejam atentos em como contribuir com este equilíbrio. Ações preventivas, como o diálogo aberto sobre saúde mental e o incentivo ao autocuidado são fundamentais para que o ambiente de trabalho seja acolhedor e respeite os limites de cada um.

Precisamos conscientizar os trabalhadores sobre seus direitos e reforçar a importância de uma vida equilibrada. A prevenção é um caminho seguro e tangível para promover a saúde mental no ambiente de trabalho. Investir em ações preventivas não só custa menos, como também minimiza o impacto emocional e financeiro que os transtornos mentais podem causar.

O Setembro Amarelo reforça a importância de cuidar de nossa mente tanto quanto de nosso corpo. E estas discussões não podem findar no dia 30, como se pudessem ficar em suspenso até o próximo ano, porque até lá milhares de trabalhadores adoecerão, desfalcarão suas equipes e farão sofrer suas famílias.

Fonte: Jornal O Popular